Nancy Stokes (Emma Thompson) é uma mulher que, já na meia-idade, não sabe dizer como é a sensação de um orgasmo. Apesar de ter sido casada durante décadas, o sexo era apenas algo burocrático que acontecia em sua rotina, com o marido se recusando a certas coisas, apesar do desejo da personagem. Até que, após a morte do marido, ela toma uma decisão: ter uma relação com Leo Grande (Daryl McCormack), um garoto de programa que contrata para um encontro. Essa é a trama inicial de ‘Boa Sorte, Leo Grande’. Com toda a cara de filme gravado durante a pandemia e com inspiração nos teatros, já que quase todas as sequências se am em um quarto de hotel, o longa-metragem tem um foco muito específico: falar sobre sexualidade. Ainda que a questão do sexo na terceira idade seja o fio condutor e o brilho do filme, há toda uma reflexão sobre a imagem social e as reflexões do sexo. Com isso em mãos, a roteirista Katy Brand (‘Under One Roof’) e a diretora Sophie Hyde (‘Animals’) conduzem essa conversa ao longo de três encontros entre os personagens – um dos principais acertos do filme, já que vai mostrando o desenvolvimento de Leo e Nancy ao longo do tempo. É um filme importante, mais do que bom ou empolgante, que traz reflexões que o cinema pode provocar com um diálogo, uma cena, uma ideia. O destaque fica para McCormack (‘Roda do Tempo’) e Thompson (‘Harry Potter e o Prisioneiro de Azkabam’), que sabem dar complexidade aos seus personagens em momentos que transitam entre a fragilidade e o desejo. Aliás, vale dizer que a última cena do filme, uma entrega completa de Thompson, é uma das mais bonitas e corajosas no cinema em 2022. Quer ler mais? Discutimos os temas do filme em uma matéria especial, clique aqui para ar.
Uma história de terror violenta e repugnante pode ser, ao mesmo tempo, uma história de amor? O diretor Luca Guadagnino está de volta para propor essa possibilidade com 'Até os Ossos', que mistura com sucesso o horror sangrento de seu filme 'Suspiria' com a ternura sensual de 'Me Chame pelo seu Nome', apresentando com total autenticidade e credibilidade uma história sobre dois jovens amantes que sucumbem aos seus instintos canibais. A mistura de gêneros pode ser um pouco chocante para alguns, mas é um experimento bem elaborado de Guadagnino (vencedor do Leão de Prata de Veneza de Melhor Diretor) que atinge ambos enquanto ressoa com sua metáfora de profunda alienação da juventude.
O reino africano de Daomé é um dos únicos na história do mundo com registros de uma guarda real formada exclusivamente por mulheres, conhecidas como Agojie. Se você assistiu a ‘Pantera Negra’, deve se lembrar das guerreiras que protegem o reino de Wakanda, as Dora Milaje. Pois em ‘A Mulher Rei’, você vai conhecer a história deste exército feminino que inspirou os criadores das histórias da Marvel. No filme, Viola Davis é a líder das Agojie, uma general que por mais que seja uma heroína é também humana. Esse é um dos pontos mais fortes da história, que já é carregada de uma força absurda: a construção de uma personagem feminina complexa, livre de estereótipos e fundamentos rasos. Você consegue se ver nela como mulher e encontrar um poder interno, de que as mulheres são capazes de tudo. Além disso, a produção enaltece a beleza e diversidade da mulher negra sem artifícios ou estereótipos - esse é o cinema fazendo seu papel ao mostrar a vida como ela é. Vale dizer que ‘A Mulher Rei’ é um épico histórico com cenas de ação, mas esse não é o foco. É um filme que retrata um período da África Ocidental que foi fortemente influenciado por essas guerreiras mulheres, que merecem ter sua história contada. Clique aqui para ler a crítica completa e a entrevista com Viola Davis.
Protagonizado por Anya Taylor-Joy e Ralph Fiennes, e dirigida por Mark Mylod (conhecido por dirigir episódios de séries como Game of Thrones e Succession), esta sátira ácida do mundo da gastronomia parte de uma premissa simples: um grupo de ricos embarcam em uma pequena ilha onde fica um dos restaurantes mais exclusivos e procurados do mundo, mas descobrem que o prato principal é uma vingança macabra e violenta. Por quê? Cada um dos visitantes tem os seus crimes a pagar, e a revelação de cada um é o fio condutor desta narrativa que, por extensão, satiriza também o mundo da arte e do cinema, encurralado entre o consumo indiscriminado, a produção enlatada e o esnobismo mais elitista.
Ainda que pouco lembrado pelas massas, Sidney Poitier é um marco para o cinema americano – e para a própria história dos Estados Unidos. Afinal, este ator, cineasta e ativista não só foi o primeiro ator negro a vencer um Oscar, como também fez com que a luta pelos direitos dos negros se tornasse uma constante em sua vida e carreira, participando de importantes movimentos dos direitos civis. Neste documentário produzido por Oprah Winfrey e dirigido por Reginald Hudlin, a história de Sidney é aprofundada com arquivos e entrevistas francas com Denzel Washington, Halle Berry, Robert Redford, Spike Lee e outros grandes nomes do cinema. Um documento importante sobre nosso ado.