Pode-se dizer que Azul é a Cor mais Quente é um dos filmes mais polêmicos e provocativos dos últimos tempos. Polêmicos pois o diretor, Abdellatif Kechiche, foi acusado pelas protagonistas Palma de Ouro de Cannes em 2013, traz uma história fora dos padrões sobre um romance avassalador entre duas garotas. Indo além de méritos da direção de Kechiche, o filme acaba sendo das duas atrizes, que carregam todas as transformações e complexidades de suas personagens nas costas. É um filme intenso, com momentos fortes e explícitos, mas que acaba trazendo uma boa história de relações e descobertas.
Dirigida por Bertrand Bonello (Zombi Child), A Besta é uma épica sa de ficção científica com uma premissa ambiciosa que brinca com a Inteligência Artificial e a ideia do trauma herdado através de diversas vidas. Situada em uma sociedade estoica em 2044, a trama segue uma mulher (Léa Seydoux) que recorre à IA para percorrer suas vidas adas e "purificar seu DNA" de afetos e traumas. Assim, ela se reencontra com seu grande amor de diversas épocas (George MacKay), e deverá lutar para mudar o catastrófico destino cíclico de sua relação. Contada através de três diferentes épocas (1910, 2014 e 2044), é uma narrativa de grande escala que exige atenção cuidadosa, mas que recompensa com ricas reflexões e grandes atuações.
A Ilha de Bergman’ e ‘Maya’. Sabe brincar com roteiro, misturando literatura com cinema, e trazendo emoção sob medida. Isso se repete em 'Uma Bela Manhã’, produção sa que acompanha a história de uma jovem mulher (Léa Seydoux) que mora com a filha de oito anos enquanto tem um pai que sofre de doença neurodegenerativa. Neste momento, assim, ela vive várias emoções em sua vida: procurar uma casa de repouso decente, cuidar do filho e, ainda, encontrar espaço para amar. Ainda que seja menos criativo do que ‘A Ilha de Bergman’, Hansen-Løve só comprova como é criativa e sabe contar histórias humanas, transitando entre diferentes emoções.
Se você assistiu a outros filmes do cineasta Wes Anderson - como O Fantástico Sr. Raposo, Ilha dos Cachorros e Moonrise Kingdom - sabe exatamente o que encontrará em ‘A Crônica sa’: um lirismo extravagante, um humor refinado, uma estética apurada, uma bela fotografia, uma história calcada nas sutilezas e muita, muita excentricidade. Desta vez, o diretor e roteirista se empenha em fazer uma grande homenagem ao jornalismo literário, com a publicação A Crônica sa do título claramente inspirada na revista ‘The New Yorker’. Dessa forma, acompanhamos o olhar de jornalistas americanos na fictícia cidade sa de Ennui - todos inspirados em nomes importantes da imprensa norte-americana, como Harold Ross, Joseph Mitchell e James Baldwin. Em formato de antologia, o longa-metragem procura abordar assuntos dos mais diversos, como o valor e a interpretação da arte, as relações humanas, o amor, o sexo, a busca da juventude pela revolução e o embate com o conservadorismo, a gentrificação e até a neutralidade jornalística. O elenco é estelar, incluindo nomes como Bill Murray, Owen Wilson, Elisabeth Moss, Tilda Swinton, Benicio del Toro, Adrien Brody, Léa Seydoux, s McDormand, Timothée Chalamet, Christoph Waltz, Jeffrey Wright, Mathieu Amalric, Liev Schreiber, Edward Norton, Willem Dafoe e Saoirse Ronan - todos em papéis maiores ou menores, alguns aparecendo por pouquíssimos segundos. Certamente não é o filme mais ível de Wes Anderson, exigindo que o espectador, de alguma forma, orbite ou tenha gosto pelos temas que são trazidos à tela, além de uma afeição pelo estilo do cineasta. Se esse for o seu caso, certamente encontrará uma carta de amor ao jornalismo literário e à arte, inclusive a cinematográfica.